terça-feira, 2 de outubro de 2012

A FARRA DOS SISTEMAS ERP

Reginaldo de Oliveira
Publicado no Jornal do Commercio dia 18/09/2012 - A97
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Na época dos computadores de 8 bits a informatização de processos acontecia de forma metódica e sem as turbulências e convulsões hoje tão recorrentes nas organizações. Um fenômeno curioso e paradoxal é que quanto mais avançadas se tornam as tecnologias disponíveis, mais dores de cabeça, mas complicações e mais custos elas trazem para as empresas. Os robustos mainframes de décadas passadas centralizavam os controles de diversas operações de uma organização. Essa centralização permitia manter o sistema de informações rigorosamente alinhado com as diretrizes e normas estabelecidas. O advento dos milagrosos computadores pessoais (PC) dispersou as informações promovendo o caos e a perda de controle, visto que muitas automações de procedimentos se tornaram redundantes, conflituosas e enigmáticas. Depois de anos de convulsões, aborrecimentos e frustrações com as promessas milagrosas da informática, começaram a se disseminar os Sistemas Integrados de Gestão Empresarial ou, em inglês, “Enterprise Resource Planning” (ERP). Mais uma vez as empresas se viam seduzidas com a promessa de integração total dos seus processos. O problema é que, teoricamente, o conceito era excelente, mas a prática descortinava uma realidade turbulenta e destrutiva. Tanto, que casos de falência motivados por desastrosas implantações de
Sistemas ERP são mais comuns do que se pode imaginar.

Apesar do bombardeio constante de notícias sobre produtos tecnológicos revolucionários e apesar das maravilhosas propostas de soluções avançadas oferecidas pelas softwarehouses, o que se observa na rotina da maioria das empresas é um absoluto descompasso com o tal mundo maravilhoso que só existe na propaganda. Os casos de sucesso conhecidos são fruto de altíssimos investimentos, tanto em sistemas ERP como em toda uma infraestrutura de gestão dos negócios. Empresas com nível de profissionalismo insuficiente penam bastante na mão de analistas inescrupulosos, justamente pela estreiteza da visão sobre o assunto. Essas empresas querem chegar ao topo da escada sem ter que passar pelos degraus intermediários. A mistura de miopia com ignorância torna muitos empresários presas fáceis dos mercadores de Sistemas ERP. A tática dos vendedores é não contar toda a história, visto que se fizer isso acabaria perdendo o cliente, que só terá noção do tamanho da enrascada que se meteu quando o processo estiver bem adiantado. Na etapa da negociação só se fala dos benefícios e das virtudes do sistema, não ficando claro o custo necessário para obtenção de níveis razoáveis de sucesso.

Uma das características mais acentuadas no corpo técnico das empresas comercializadoras de Sistemas ERP é o ostensivo e vergonhoso desconhecimento daquilo que vendem. A impressão que essas empresas deixam é que abraçam uma responsabilidade sem o mínimo preparo. A evidência desse fato pode ser constatada numa infinidade de casos de analistas que se enroscam por inteiro quando tentam corrigir um problema de funcionalidade ou atender demandas específicas de clientes. Muitos desses profissionais deixam a coisa pior do que encontram. E o mais revoltante é que cobram, cobram, cobram por cada detalhe, por cada verificação, por cada análise. Tudo é cobrado e pouca coisa funciona. Normalmente, os analistas locais pouco ou nada sabem do sistema em que “são especializados”. É muita gente ruim espalhada por aí, enganando e irritando usuários de sistemas ERP. Um adquirente de sistemas ERP que quiser alguma funcionalidade terá que estar disposto a contratar profissionais caríssimos, oriundos dos grandes centros de tecnologia do país.

Um Sistema ERP deve ser visto como um meio para se atingir determinados objetivos de controle. Tais sistemas não podem acabar se tornando um fim em si mesmo. O empresário não pode deixar de pensar nos negócios, na concorrência, no mercado etc. para concentrar sua atenção exclusiva numa infinidade de problemas gerados pelo seu sistema de gestão empresarial. Interessante é que sistemas gigantescos de controle existem e aparentemente funcionam bem, como é o caso do monumental volume de operações das empresas de cartão de crédito, significando assim que o problema não está na tecnologia e sim na capacitação da mão-de-obra. É angustiante para um empresário ver todo dia seu pessoal tropeçando nas próprias pernas por causa do sistema que não funciona adequadamente. Pior ainda é se sentir refém de uma softwarehouse que diariamente cria uma deformidade para posteriormente cobrar caro para providenciar o conserto. A maior parte dos problemas só acontece porque as empresas não procuram investir na qualificação das suas equipes. Um grupo de profissionais bem qualificados é o melhor antídoto para confrontar os mercadores de softwares mal intencionados. 


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